segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Opinite Aguda

Há dias em que fico com a sensação que Portugal nunca se curará da psicose do orgulhosamente só. A discussão á volta do referendo do aborto tem sido um exemplo da forma como nos comportamos enquanto povo quando se trata de mudar o estado de inércia em que as mais variadas coisas vão permanecendo ao longo do tempo.
Um assunto sobre o qual pouquíssima gente se importou, desde o último referendo, tornou-se de repente numa causa Nacional, em que toda a gente se presta a opinar e a argumentar. O problema é que muitos dos cidadãos, mesmo aqueles que já eram figuras públicas antes disto, não parecem estar muito habituados à fundamentação lógica que pressupõe a exposição de um argumento que por sua vez serve para fundamentar uma opinião. Pois é. Por mais que tente compreender os argumentos do NÃO (tentando vislumbrar alguma lógica, para além do ponto de vista), fico sempre com a estranha sensação que aquelas pessoas ou não sabem do que estão a falar ou, perdoem-me a arrogância, têm um défice de inteligência racional. Começa a haver aqui um padrão quando se trata de discutir questões fundamentais, sejam elas o aborto, a educação, a justiça, o ambiente, etc. Assistimos continuamente a debates nos media sobre os mais variados temas em que as pessoas não se coíbem de emitir os pareceres mais disparatados apenas porque se sentem impelidos a participar. É um insulto à democracia o uso da liberdade de expressão sem responsabilidade, quando vejo pessoas como o Fernando Santos, treinador de futebol a esgrimir disparates sobre o tema do aborto imagino-me eu própria a esgrimir argumentos sobre os motivos que levaram o Benfica a empatar com o Boavista este fim-de-semana, e acreditem, que eu de futebol não entendo nada. É que tal como o futebol, há certos assuntos cujas considerações que fazemos sobre eles não devem sair da esfera da mesa de café em conversa com os amigos, sob pena de simplesmente não estarmos habilitados, por desconhecimento ou défice de informação. Estaremos perante um problema de falta de modéstia nacional? Então agora somos obrigados a pronunciármo-nos publicamente sobre todo e qualquer assunto, mesmo que seja física nuclear, e o «opinante» só tenha o 9º ano e nunca tenha passado a matemática? Já basta o facto de parte da população ir a votos para decidir os destinos da Nação sem ter lido um único jornal nos últimos cinco anos e ter acompanhado todos os episódios da Floribela e dos Morangos com Açúcar. Até aí tudo bem. São as perversões da Democracia, e temos de as aceitar. Agora, daí a entrarem-nos pela casa dentro com direito de antena a proferir disparates, tenham dó, isto só pode ser a perversão dos media.

Com ou sem FMI...