terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Acasos


Victoria Station

Oscilam todos os corpos e todas as almas.
Um beijo que se dá, num galopar de carris,
Devorado pelos subtis olhares, de complacência ou desejo.
Os pensamentos trespassam os olhares perdidos.
Na jornada interminável dos corpos que vão e vêm, regista-se a órbita da existência.
Letras saltitam ao som deste deslizar infernal.
Tenta-se apanhá-las e juntá-las para encurtar o caminho.
Virtuosos equilibristas, estes que se movem ao compasso do balanço,
Tentando não deixar cair a vida que seguram entre as solas dos sapatos e uma mão fechada em redor de um apoio ilusoriamente à prova de gravidade.
Cem anos que passassem num segundo e tudo se evaporaria.
Apenas ficaria o ar abafado da carruagem e o espanto de tudo ter passado, afinal, tão depressa.


Faz por esta altura dois anos que estive em Londres e à força de tanto andamento de metro fui tocada pela poesia urbana daquele vai e vem de gente. Curiosamente passado cerca de um mês deram-se os atentados no metro, mais tarde, por acaso, reli o que tinha escrito na altura e arrepiei-me com o final quase premonitório deste texto assim como a estranha sensação de ter jogado à roleta russa sem saber.

Com ou sem FMI...