quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O Tédio Nacional

De quando em vez a RTP ( e os outros canais também) mostra uma daquelas reportagens sociais sobre a vidinha urbana da classe media. Lá vêm as correrias entre a casa, a creche, o trabalho, os transportes, públicos ou particulares, as filas de trânsito, a falta de tempo, e por aí fora começa a ser desfiado o role de lamentações do costume. Fico cansada só de assistir.
Tudo isto é verdade e já se sabe. Não sou diferente e estou no mesmo barco que toda essa gente, talvez com a sorte, e também a opção, de trabalhar relativamente perto da minha residência, o que reduz de certa forma o tempo na estrada, de resto é igual. É uma boa vida? Depende do ponto de vista, o que não tem de ser é uma ausência de existência como transparece sempre das ditas reportagens, em que os intervenientes aparecem como vitimas de um total sacrifício, castigo ou punição simplesmente porque têm de trabalhar todos os dias e educar os filhos como podem. Trabalhar é uma chatice, mas é preciso. E que bom que é ter trabalho, nos dias que correm. O que não é bom é a alienação ao que nos rodeia. Fico sempre com a sensação de que faltou abordar o ponto essencial, que é este. É uma canseira de vida, mas nunca tantas coisas foram tão acessíveis a tanta gente, o que faz a diferença é a forma como olhamos para essas coisas. As peças jornalísticas de que falo, cuja intenção deverá ser abordar a difícil logística decorrente da vida nas grandes cidades e as dificuldades diárias das famílias, acabam invariavelmente por deixar um retrato de pessoas que se deixaram alienar por uma espécie de existência transcendente, no mau sentido, no sentido em que toda a sua vida se resume ao entediante sacrifício de ir trabalhar, regressar a casa no final do dia para uma entediante vida doméstica, com os olhos posto no entediante dia seguinte, igual ao anterior. Com todas as minhas correrias diárias, que são bastante consideráveis, não me revejo nesta abordagem e ainda bem.

Com ou sem FMI...