sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Silêncio

Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.

Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"
Tradução de Luis Pignatelli

It's A Fire - Portishead

Ar de Outono


Gosto do céu de Outono. Aquele céu cor de chumbo com o sol a espreitar, muito amarelo, a incidir nas folhas caídas. O chilrear dos pássaros ao fim da tarde em busca de abrigo para a noite. O cheiro das castanhas nas ruas. O casaco que sai do armário para nos aconchegar. O cheiro a terra molhada das primeiras chuvas. O regresso às aulas. Os cadernos e livros novos (tenho saudades). A cor do rio. As luzes que se acendem mais cedo na cidade. O chá das cinco ao fim de semana. Os livros que se lêem naquele cantinho preferido lá de casa. Brincar com o meu filho e ver a chuva a cair lá fora. As nozes. Os jantares em casa com os amigos. Afinal a despedida do Verão não é assim tão má.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Legendary Tiger Man "Life Aint Enough For You"

Á espera de Godot

O mês de Outubro passou num ápice, entre eleições autárquicas, as guerras e intrigas partidárias do costume, a polémica da Maitê, as «blasfémias» do Saramago, os espirros da gripe, a tomada de posse do governo, as estatísticas que nos confundem, défice para cima, desemprego para cima, índices de confiança para cima (em oposição a todas as estatísticas da desgraça), poupanças dos portugueses que aumentam, a inflação para baixo, enfim uma grande trapalhada, cujo desfecho se adivinha longe e com muitas peripécias pelo meio. O melhor que podemos esperar é nada esperar e tentar sobreviver à avalanche.

Com ou sem FMI...