terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Bruma sadina


© Foto de Maurício Abreu

Vox Pop

As Urgências afinal já não vão fechar. O ministro arrependeu-se. Erros de análise ou barulho a mais feito pela populaça? Cada um pense o quiser. Eu por mim digo, ainda bem que recuaram a tempo.
Diz que os processos judiciais em aberto diminuíram, mas também há quem diga que não...que depende da leitura dos números, que isto da estatística é uma grande trapalhada. Parece que diminuiram mesmo, mas há quem não queira, daí esta questão dos números, esses marotos, que só servem para baralhar.
Consta ainda que vamos ter por aí campanhas de sensibilização anti-fogo nos pacotes de manteiga, nos pacotes de leite, maços de cigarros, etc. Acho bem. Sai mais barato, derrubam-se menos árvores e todos lêem a mensagem ao pequeno almoço.

God Save Helen


Esta coisa dos Óscares vale o que vale, seja como for, este foi sem dúvida muito bem merecido. Não apenas pela façanha de humanizar a rainha, como muito bem observou Pedro Mexia, mas também por muitas das personagens que esta senhora tem protagonizado ao longo da sua carreira. God Save Helen.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

A vida - esse grande livro


(...) A esperança de que possamos um dia acordar para uma condição de vida totalmente diferente da que experimentamos no quotidiano torna os homens vítimas voluntárias de todas as formas de tirania e de anulação. O indivíduo é neutralizado pela esperança e pelo temor. O mito que vive dia após dia é o de mais tarde poder vir a escapar da prisão que criou para si mesmo e que atribui a maquinações alheias. Todos os verdadeiros heróis se apropriaram da realidade. Ao libertar-se, o herói faz explodir o mito que nos liga ao passado e ao futuro. Esta é a própria essência do mito- que oculta o prodigioso aqui e agora.

Henry Miller


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Vitalidade incontornável


Canção de Embalar

Dorme meu menino a estrela d’alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será pra ti
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme quinda à noite é muito
menina
Deixa-a vir também adormecer

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Dar para receber


Sempre ouvi dizer que quem dá o que tem a mais não é obrigado, e como quem vê caras não vê corações ... em caso de dúvida o melhor mesmo era este senhor e respectiva companhia irem curtir o lusco-fusco para o Burkina Faso. O poder autárquico deste País está tão podre que daria tema para trezentos e sessenta e cinco posts por ano em todos os Blogues nacionais e igual número de notícias a abrir os telejornais, cada dia com um novo escândalo de corrupção e de «chico-espertismo», com uma pitada de futebol aqui e mais um empreendimento urbanístico suspeito acolá. Esta gente ainda não percebeu que é eleita para servir os interesses das populações que os elege e não as suas próprias futilidades e compadrios. Se a isso juntarmos as boas práticas do favor (uns por apadrinhamento outros por compra directa) que minam a Função Pública, podemos dizer que estamos perante um verdadeiro dossier pedagógico nacional. Pois é, um mau exemplo vale mais que mil campanhas de sensibilização para a necessidade de cumprir a lei e pagar impostos a tempo e horas. Com este espírito terceiro mundista nunca mais deixaremos de ser os coitadinhos do sul da Europa que são muito bons a organizar grandes eventos de projecção internacional mas que não conseguem organizar-se a si próprios. Os provincianos que têm a maior árvore de Natal e os maiores centros comerciais mas que não conseguem resolver um processo judicial em menos de cinco anos. Quantos anos mais teremos de esperar por alguma decência?

Birra


Não me dão dinheirinho vou-me embora. O Sócrates é velhaco. Assim não brinco. Como castigo vou-me recandidatar.
Haja paciência.

Ares de Madrid II


Ares de Madrid


sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Piada de Carnaval

«(...)acreditamos, em absoluto, que Setúbal é hoje um concelho com uma actividade cultural e desportiva bastante rica, para a qual muito contribuem as associações que se empenham na criação de oferta de eventos de qualidade. O "Guia de Eventos" que a autarquia edita, mensalmente, é, aliás, um reflexo fiel dessa actividade.(...)»

Maria das Dores Meira
Presidente da Câmara Municipal de Setúbal


Terei lido bem? Actividade cultural e desportiva bastante rica???eventos de qualidade (com todo o respeito que tenho pelas associações)???Esta senhora não pode estar a falar de Setúbal. Se calhar sou eu que ando arredada de tanta actividade. Por mim vou já dispensar as ofertas culturais para este Carnaval. Até para a semana.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

É de pequenino...

Foram divulgados na comunicação social resultados de um estudo que revela que as nossas crianças e adolescentes andam cabisbaixas, tristes ou lá o que é. A semana passada saíram também resultados de um outro estudo que revelava problemas de obesidade nas mesmas faixas etárias... fico sempre na duvida para que servem estes estudos, partindo do princípio que se tivessem alguma base comparativa anterior, poderiam indiciar alguma tendência social, mas parece-me que há umas décadas atrás os estudos que se faziam estavam mais relacionados com a mortalidade infantil ou com carências mais básicas. Se calhar nessa altura andavam ainda mais tristes, embora menos obesos,... seja como for com a nossa reputação de povo com tendências depressivas este estudo só vem confirmar que estamos muito provavelmente perante um problema genético.

Happy Valentine's


É apenas o começo. Só depois dói,
e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas a mão, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo. Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo,
apenas o começo. Antes
do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações.
Imagem: Gustav Klimt
Texto: Eugénio de Andrade

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Outros Carnavais

Acasos


Victoria Station

Oscilam todos os corpos e todas as almas.
Um beijo que se dá, num galopar de carris,
Devorado pelos subtis olhares, de complacência ou desejo.
Os pensamentos trespassam os olhares perdidos.
Na jornada interminável dos corpos que vão e vêm, regista-se a órbita da existência.
Letras saltitam ao som deste deslizar infernal.
Tenta-se apanhá-las e juntá-las para encurtar o caminho.
Virtuosos equilibristas, estes que se movem ao compasso do balanço,
Tentando não deixar cair a vida que seguram entre as solas dos sapatos e uma mão fechada em redor de um apoio ilusoriamente à prova de gravidade.
Cem anos que passassem num segundo e tudo se evaporaria.
Apenas ficaria o ar abafado da carruagem e o espanto de tudo ter passado, afinal, tão depressa.


Faz por esta altura dois anos que estive em Londres e à força de tanto andamento de metro fui tocada pela poesia urbana daquele vai e vem de gente. Curiosamente passado cerca de um mês deram-se os atentados no metro, mais tarde, por acaso, reli o que tinha escrito na altura e arrepiei-me com o final quase premonitório deste texto assim como a estranha sensação de ter jogado à roleta russa sem saber.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Um pequeno grande passo...

E pronto.
Entre os que calaram consentindo e os que votaram decidindo, podemos dizer que foi um primeiro passo rumo a uma modernidade de pensamento que urge na nossa sociedade. Para promover o mau estar de muita gente espero que estejam para breve novos debates sociais no Portugal dos Pequeninos deixo aqui uma pequena lista de alguns temas que gostaria de ver referendados até à exaustão:
- Eutanásia
- Liberalização das drogas leves
- Casamento entre homossexuais
- Adopção de crianças por casais homossexuais
Os discursos e argumentos dos nossos guardiões da moral e dos bons costumes , dariam sem dúvida um manancial interminável de potenciais rábulas para os futuros programas dos Gato Fedorento . Eram Gatos para lhes comerem a língua.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007


Imagem: Paula Rego

Vale Tudo!

Por falar em confusões, as últimas notícias sobre as posições dos acérrimos defensores do NÃO dizem que afinal o pessoal está disposto a propor, se o NÃO ganhar, uma alteração á lei actual. Qualquer coisa em que se retiraria a pena de prisão substituindo-a por trabalho comunitário. Afinal isto é tudo malta de boa vontade. Trabalho comunitário cheira-me a expiação de pecados. Amén.

Opinite Aguda II


Pela boca morre o peixe, ou parafraseando-me, quem não sabe sobre o que fala só diz disparates. Ora no post anterior fiz referência a Luís Filipe Vieira, quando me queria referir a Fernando Santos treinador do Benfica. Peço desculpa pela gafe que já tratei de corrigir, nomes nunca foram o meu forte e da malta do futebol pior ainda. Só me apercebi da troca perante a imagem televisiva do dito Sr. a participar num jogo de matraquilhos algures no Parque das Nações, com cerca de quatro jovens do sexo feminino, como forma de apoio ao NÃO. Tudo terminou com a intervenção da polícia. (Lá estão sempre esses marotos a boicotar as manifestações). Esta forma de activismo representa mais um segredo insondável do universo.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Opinite Aguda

Há dias em que fico com a sensação que Portugal nunca se curará da psicose do orgulhosamente só. A discussão á volta do referendo do aborto tem sido um exemplo da forma como nos comportamos enquanto povo quando se trata de mudar o estado de inércia em que as mais variadas coisas vão permanecendo ao longo do tempo.
Um assunto sobre o qual pouquíssima gente se importou, desde o último referendo, tornou-se de repente numa causa Nacional, em que toda a gente se presta a opinar e a argumentar. O problema é que muitos dos cidadãos, mesmo aqueles que já eram figuras públicas antes disto, não parecem estar muito habituados à fundamentação lógica que pressupõe a exposição de um argumento que por sua vez serve para fundamentar uma opinião. Pois é. Por mais que tente compreender os argumentos do NÃO (tentando vislumbrar alguma lógica, para além do ponto de vista), fico sempre com a estranha sensação que aquelas pessoas ou não sabem do que estão a falar ou, perdoem-me a arrogância, têm um défice de inteligência racional. Começa a haver aqui um padrão quando se trata de discutir questões fundamentais, sejam elas o aborto, a educação, a justiça, o ambiente, etc. Assistimos continuamente a debates nos media sobre os mais variados temas em que as pessoas não se coíbem de emitir os pareceres mais disparatados apenas porque se sentem impelidos a participar. É um insulto à democracia o uso da liberdade de expressão sem responsabilidade, quando vejo pessoas como o Fernando Santos, treinador de futebol a esgrimir disparates sobre o tema do aborto imagino-me eu própria a esgrimir argumentos sobre os motivos que levaram o Benfica a empatar com o Boavista este fim-de-semana, e acreditem, que eu de futebol não entendo nada. É que tal como o futebol, há certos assuntos cujas considerações que fazemos sobre eles não devem sair da esfera da mesa de café em conversa com os amigos, sob pena de simplesmente não estarmos habilitados, por desconhecimento ou défice de informação. Estaremos perante um problema de falta de modéstia nacional? Então agora somos obrigados a pronunciármo-nos publicamente sobre todo e qualquer assunto, mesmo que seja física nuclear, e o «opinante» só tenha o 9º ano e nunca tenha passado a matemática? Já basta o facto de parte da população ir a votos para decidir os destinos da Nação sem ter lido um único jornal nos últimos cinco anos e ter acompanhado todos os episódios da Floribela e dos Morangos com Açúcar. Até aí tudo bem. São as perversões da Democracia, e temos de as aceitar. Agora, daí a entrarem-nos pela casa dentro com direito de antena a proferir disparates, tenham dó, isto só pode ser a perversão dos media.

Baixinhos, baixinhos...


A atenuante da gafe do ministro sobre a nossa «vantagem competitiva», ou seja, dos baixos salários que por cá se pagam, prende-se com o facto desta constatação ter sido proferida na China. Parece que por lá ainda são mais baixos.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Em Banho Maria




O Expresso desta semana dedica grande parte da sua edição ao Ambiente. A questão do Ambiente tem tido até agora a mesma abordagem que tantas outras: Depois da casa arrombada, trancas na porta. Parece é que as casas lá para os lados dos EUA ainda têm muito por onde arrombar, visto que parece não haver grande vontade política para colocar trancas. Se calhar a coisa só lá vai com mais uns quantos Katrina, quem sabe algum deles perto de um certo rancho em Crawford Texas. Como nós por cá temos tido uma certa tendência para ser mais americanos que europeus temos o que merecemos. E o Ambiente lá vai andando muito mal tratado, à espera que as cartas de intenções passem verdadeiramente à prática, enquanto isso, vai aquecendo em banho maria.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Penso, logo vivo




«Jorge Dias pertence à nova geração de Filósofos que acreditam que a Filosofia deve estar presente em todas as dimensões da vida e que pode ser um contributo real à resolução de questões e problemas que dizem respeito à natureza do Ser Humano. Neste livro, através de uma linguagem perfeitamente acessível, introduz o leitor no mundo do Aconselhamento Filosófico utilizando amiúde exemplos da sua própria experiência, o que dá um dinamismo e humanismo muito peculiares à sua exposição.
O autor é professor de Filosofia, Formador e Consultor para a área da Ética. Tem realizado sessões de Aconselhamento Filosófico Individual, tendo-se especializado na Society for Philosophy in Practice, em Londres. É membro do Conselho Científico da «Revista Internacional de Filosofia Prática» (Grupo ETOR – Universidade de Sevilha) e foi convidado para ministrar um seminário de Aconselhamento Ético no Mestrado: «Prática Filosófica e Gestão Social», na Universidade de Barcelona.»

A Filosofia , mãe de todas as ciências, sempre me fascinou. Ver esta reabilitação da Filosofia enquanto prática que pode ter lugar no dia a dia e não apenas como uma série de teorias metafisicas emboloradas, que todos os que foram obrigados a estudar, ainda recordam com enfado (não é o meu caso, mas conheço muito boa gente que assim o recorda) muito me apraz constatar que estamos perante uma tentativa real de abrir à geração presente e futura um novo caminho com uma ferramenta antiga nascida no berço da cultura ocidental. A somar à famosa máxima ver o mundo através dos olhos de uma criança, Oscar Brenifier acrescenta algo «as perguntas das crianças são todas importantes» . É um facto. Manter o espírito aberto, questionar o que nos rodeia, observar o mundo como se fosse a primeira vez que olhamos para ele, ginasticar o pensamento em busca de respostas ou de mais perguntas será certamente o elixir da eterna juventude. Refiro-me, claro está, à juventude do espírito para a qual não há medicina nem avanço genético que lhe valha.

A Lei

Artigo 139º (Aborto)
1- (...)
2-Quem, por qualquer meio e com consentimento da mulher grávida, a fizer abortar, fora dos casos previstos no artigo seguinte, será punido com prisão até 3 anos.
3- Na mesma pena incorre a mulher grávida que, fora dos casos previstos no artigo seguinte, der consentimento ao aborto causado por terceiro, ou que, por facto próprio ou de outrem, se fizer abortar.
4-Se o aborto previsto nos n.os 2 e 3 for praticado para evitar a reprovação social da mulher, ou por motivo que diminua sensivelmente a culpa do agente, a pena aplicável não será superior a 1 ano.

É para mudar esta lei, e este artigo em particular que devermos votar SIM no próximo dia 11. Humilha-me como mulher haver uma lei assim. Que condena com dois pesos e duas medidas, que não se faz cumprir, que apenas serve para proteger a moral caduca de quem se recusa a ver a realidade como ela é e humilhar as mulheres, que para além da dor do acto de abortar, têm ainda de se sentir criminosas á luz da lei.

Com ou sem FMI...